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Menstruar e ciclicidade

Muitas palavras podem ser usadas para caracterizar uma mulher, mas sem dúvida um evento exclusivo do sexo feminino é o menstruar. Na vida de uma mulher, do sexo feminino, a menstruação é o evento central, pois marca o seus ritos de passagem, um símbolo de sua ciclicidade.


Biologicamente destacamos três momentos marcantes: com a menarca, a chegada da primeira menstruação, inicia-se a fase reprodutiva. A menina agora percebe as mudanças físicas advindas da cascata hormonal, e vemos a chegada da jovem sensual. Durante três décadas, em média, o sangrar regular e a preparação para o gestar marcam a fase reprodutiva . É um período de muita força e criatividade que pode ser usado para gerar uma vida, ideias ou sonhos. Com o fim do período reprodutivo temos a menopausa. Sabedoria é o poder acumulado pelas experiências vividas.


Mas no mundo predomina o regime patriarcal e podemos ver claramente como a importância dos ciclos se perderam. A jovem sensual é vista exclusivamente como um objeto desejo; a mulher adulta sofre as pressões pela sua fertilidade(ou ausência dela); o poder da anciã já não é mais reconhecido e a velhice é desvalorizada.


Com desconhecimento de sua ciclicidade o fluir encontra resistência e a resistência atua bloqueando a energia vital; por isso é tão comum que as mulheres se sintam desconectadas, perdidas e até adoecidas.


É sabido e reconhecido pela ciência que as mudanças ocorridas durante o ciclo menstrual impactam diretamente o comportamento da mulher. As mudanças nos níveis hormonais resultam em alterações de humor, de temperatura corporal, alterações cardiovasculares e cardiorrespiratórias, retenção de líquidos e outras.


Como se relacionar com tantas mudanças em meio as obrigações diárias? Para um número considerável de mulheres é um desafio viver os seus ciclos em uma sociedade linear.


Essa afirmação se confirma ao observar o número crescente de queixas relacionadas ao período pré-menstrual, a famosa TPM (tensão pré-menstrual). No período pré-menstrual estamos energeticamente mais abertas e qualquer movimento, por menor que seja, pode se tornar gigante. Vivenciar mensalmente em meu corpo algo que não compreendo muito bem, me afasta de todo o simbolismo que pode ter o menstruar. Se não compreendo, não aceito e se não aceito vou me sustentar unicamente pela uma visão biológica que na atualidade vê o menstruar com algo desnecessário e passível de controle por agentes externos.


É o caso dos métodos anticoncepcionais hormonais, que enganam o corpo e mente. Se por um lado o advento da pílula anticoncepcional foi importante para o segunda onda do movimento feminista, uma vez que proporcionou as mulheres o direito de controle sobre os seus corpos, através do controle da natalidade e liberdade sexual, não podemos esquecer dos interesses que estão por trás. Não pensar nas grandes corporações comandadas em sua maioria por homens que veem o lucro acima de qualquer coisa, sem se preocupar diretamente com a saúde da mulher, é inevitável.


A reflexão aqui é para relembrarmos que o sangrar está diretamente ligado ao fluir da vida. Este evento é muito mais do que a indicação para a confirmar a presença ou ausência de uma gravidez. Quando o sangue flui, abre-se um portal para um mundo interno profundo. Um caminho de reflexão e introspecção que pode nos conduzir a saberes intrínsecos, memórias que revelam mais sobre nós mesmas. Um encontro com as sombras.


Quem dera pudéssemos seguir os passos de nossas ancestrais e reunirmos todas em uma tenda vermelha, indicando que ali estamos e junto a nós a deusa se faz presente. Quem dera pudéssemos cuidar uma das outras, trançando os cabelos, contando casos, sorrindo. Celebrando a vida ao cuidar do ventre de quem gera, ensinando quem vai gerar e reverenciando aquela que nutre as nossas almas com sua sabedoria.


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